domingo, 16 de agosto de 2009

Livre associação...
Na semana em que assisti ao filme, lia o texto da psicanalista Kehl (ressentimento). Olha só:
"A leitura dos relatos de Primo Levi sobre os campos de concentraçao faz ver ao leitor que mesmo nas condições de opressão absoluta alguns prisioneiros mantiveram diante do algoz uma posição subjetiva que não predispõe ao ressentimento. Há quem seja capaz de, obrigado pela força a beijar as botas de seu carrasco, não viver esse ato de forma humilhante. A vergonha, a abjeção, escreve Levi, devem ficar do lado do homem que, tendo liberdade de escolha, quis forçar seu semelhante a um ato abjeto. No limite, alguns prisioneiros escolhem a morte como meio de preservar sua humanidade. Morrer, ou deixar-se matar, é a afirmaçao extrema de insubmissão sob regimes totalitários - nessas condiçoes seria uma leviandade incluir certos casos de suicídio sob a rubrica de melancolia. Mas a prova de que a organização dos campos de concentraçao sob o nazismo tinha como objetivo produzir a desumanizaçao dos prisioneiros é que os índices de suicídio nos lager foram muito baixos. Desprovidos de qualquer implicação subjetiva em relação ao mal e à abjeção, reduzidos à condição de coisa, vitimas absolutas do arbítrio do outro, os homens deixam-se abater passivamente, sem lançar mão do último recurso que distingue o humano do animal: a capacidade de escolher a própria morte".
Kehl, Maria Rita. Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p. 16.

Um abraço.

Um comentário:

  1. Primeira cacetada: o filme.
    Segunda cacetada: seu post. Ainda tô digerindo...

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